Brigitte Bardot
HA 53 ANOS BRIGITTE BARDOT REVELAVA BÚZIOS PARA O MUNDO, NOS IDOS DA DÉCADA DE 60, CONHEÇA UM POUCO DESSA HISTÓRIA, E ASSISTA O VÍDEO COM IMAGENS DA ÉPOCA.
BÚZIOS – O sonho do homem que se dizia mais popular do que Jesus Cristo era conhecê-la. Em janeiro de 1964, quando fazia turnê em Paris com a maior banda de rock de todos os tempos, ele pediu que fosse agendado um encontro entre os dois. Ela, no entanto, passava férias numa pequena vila de pescadores, muito distante dali. Assim, há 50 anos, Búzios provocou o desencontro entre Brigitte Bardot e Jonh Lennon e ficou conhecida como o paraíso secreto de BB, as inicias da musa.
Apesar de ter provocado a frustração de um beatle, a passagem da grande estrela do cinema mundial daquele período por Búzios mudou completamente a vida no balneário. Subitamente, a pacata e desconhecida vila de pescadores, que era o terceiro distrito de Cabo Frio, passou a ilustrar as capas de jornais e revistas de todo o mundo. Em seu cinquentenário, a história desse verdadeiro caso de amor entre a princesa e o “plebeu” será contada no documentário “A Búzios de Bardot”. O filme será lançado na cidade durante uma exposição de fotografias, revistas e jornais da época, que ficará de 15 de março até 1º de abril, na sede da Secretaria de Turismo, no pórtico de entrada de Búzios, na Avenida José Bento Ribeiro Dantas.
– Se não fosse a Brigitte, Búzios não teria recebido tantos estrangeiros, que vieram morar aqui e acabaram contribuindo para o desenvolvimento econômico e a cultura e arquitetura locais. Búzios é hoje o quinto destino mais procurado por turistas no Brasil, e ela tem grande responsabilidade nisso – reconhece o prefeito André Granado.
O produtor do documentário e curador da exposição é um exemplo de quem ouviu falar de Búzios por causa da estrela francesa e teve sua vida influenciada por ela. Hoje morador apaixonado pela cidade, José Wilson Barbosa era um menino de 10 anos em 64 e morava em Angra dos Reis:
– Fiquei curioso para conhecer esse lugar paradisíaco que atraiu a grande musa do cinema, e esse episódio me marcou. Anos depois, quando visitei Búzios pela primeira vez, fiquei completamente encantado, como acredito que ela tenha ficado.
Barbosa é também pesquisador e dono de um grande acervo sobre a passagem de Brigitte Bardot pelo balneário. Na verdade, como ele afirma, pouca gente se lembra, mas a atriz esteve em Búzios por duas temporadas: a primeira, entre 13 janeiro e 28 de abril; e a segunda de 18 de dezembro de 64 a 8 de janeiro de 65:
– Ela chegou ao Brasil para passar férias com o namorado marroquino-brasileiro Bob Zagury em 7 de janeiro de 64. Depois de ficar alguns dias sendo perseguida pela imprensa no Rio, Brigitte embarcou num furgão e veio em busca de refúgio em Búzios pela primeira vez em 13 de janeiro, acompanhada por Bob. Aqui, ela ficou hospedada numa casa na Praia de Manguinhos, que pertencia a André Mourasieff, então representante das Nações Unidas no Brasil e amigo de Bob.
No início de 64, Bardot encontrou em Búzios a tranquilidade que tanto procurava e viveu aqueles quatro meses passeando de barco e curtindo principalmente as praias de Manguinhos e João Fernandes.
O então mergulhador e amigo de Zagury, Arduino Colassanti, que passou parte daquela temporada hospedado com o casal, lembra como Bardot vivia uma rotina tranquila em Búzios.
PUBLICIDADE
– Eu e Bob saíamos de manhã para fazer caça submarina e quando voltávamos com os peixes, ela cozinhava para a gente. A comida dela era muito boa. Ela era uma mulher simples, mas muito bonitinha – diz Colassanti.
De acordo com o pesquisador José Wilson Barbosa, no mesmo ano, no entanto, quando Bardot voltou a Búzios, não conseguiu encontrar novamente a tranquilidade que fora buscar.
– Nessa segunda passagem, ela ficou hospedada na casa do argentino Ramon Avellaneda, na atual Rua das Pedras, onde hoje funcionam a Pousada do Sol e o restaurante Cigalon, mas dessa vez, a imprensa não a deixou em paz – diz Barbosa.
O fotógrafo Walter Firmo, que trabalhava para o “Jornal do Brasil” e foi a Búzios cobrir a estada da “loura”, como se refere a Bardot, lembra como a pequena vila era diferente do balneário cosmopolita que é hoje e de como a atriz atraiu as pessoas para o local:
– Búzios era um lugar de natureza selvagem, não tinha água encanada, não tinha restaurantes nem pousadas para abrigar o grande número de profissionais da imprensa e curiosos que foram atraídos pela loura. Eram mais de 40 pessoas procurando por ela.
Daquele período, o fotógrafo lembra bem das imagens que fez e, em especial, de uma que não fez:
– Numa noite, eu estava andando por Búzios no carro do jornal e vi uma Kombi vindo na direção oposta. Pedi ao motorista para fazer sinal com os faróis para o outro parar. Saltei do carro para perguntar ao motorista da Kombi se ele teria visto a Brigitte em algum lugar. Quando cheguei perto da janela, a vi sentada lá dentro. E o pior é que eu tinha deixado a minha câmera no carro. Fiquei sem a foto. Nunca contei isso no jornal para não ser demitido.
Depois de passar o réveillon de 65 no balneário, Brigitte Bardot deixou Búzios e nunca mais voltou. O prefeito de Cabo Frio na época, Antônio de Macedo Castro, ainda concedeu à atriz um título de cidadã honorária e um terreno na Praia de João Fernandes, mas a estrela jamais recebeu os presentes.
Mesmo sem ter retornado a Búzios, há um pedacinho da cidade em que ela se perpetuou: a Orla Bardot, que além de levar o seu nome, abriga sua estátua, inspirada na foto de Denis Albanese, que era amigo de Zagury e passou um dia acompanhando a musa naquele verão. A escultura virou um ícone, que atrai todo o tipo de gente disposta a eternizar sua imagem ao lado da atriz.
PUBLICIDADE
Para a autora da obra, a escultora Christina Motta, muito mais que a representação de uma estrela de cinema, aquela é a Brigitte de Búzios.
– Quando recebi o pedido para criar a estátua, fiquei pensando como iria fazê-la, aí conheci as fotos feitas pelo Albanese. Foi na Brigitte daquelas fotos em quem me inspirei. Era daquela maneira que ela vivia em Búzios, com o cabelo solto, despenteado e o rosto sem maquiagem. Só acrescentei a mala (sobre a qual ela está sentada) para dar a ideia de que ela era uma visitante.
Uma visitante que marcou, definitivamente, a história de Búzios.